Eu
fiquei muito impressionado quando sai do cinema após assistir Batman de Tim
lançado nos EUA em 1989 e exibido no brasil lá pelo final de 1990. Naquela
época não tinha esse negócio de estreia simultânea os filmes demoravam a chegar,
ainda mais em cidade pequena de Santa Catarina. Foi após esse filme que comecei
a gostar muito mais do personagem do Cavaleiro das Trevas.
Já
fazem quase trinta anos que nesse mesmo período ganhei de um amigo uma edição
da HQ Digital Justice do Batman, sem a capa. Mesmo assim sem capa, essa publicação me causou
um enorme impacto e se tornou um dos meus itens mais valiosos, anos depois eu
penei atrás de sebos para achar uma edição intacta e bem conservada. Olhando
hoje para os desenhos e visual da revista, julgaríamos como datada e velha. Mas
para época que foi lançada o impacto foi forte. A arte da revista foi feita
totalmente por computação, sem desenhos a mão. Essa é uma tendência que não
vingou, por que logo depois os computadores forma utilizados para ampliar os
traços e principalmente as cores. Hoje mesmo sendo possível desenhar direto na
tela do computador a habilidade manual dos desenhista ainda são super
valorizadas como diferencial. Mas o fato
curioso é que os computadores da época, mesmo os mais avançados não tinham uma
boa qualidade gráfica. Os pixels dos desenhos são enormes, ficando parecendo
que toda a revista é um jogo de mega drive. Bom até poderia ser se não fosse a
história que, particularmente acho bastante impactante, principalmente para a época.
O neto do comissário Gordon é candidato a vestir o manto do morcego para fazer valer a justiça digital.
Mesmo com baixa resolução de imagens, existe momentos bastante fortes onde a
habilidade gráfica consegue excelentes resultados de composições com cores e elementos visuais
que geram um ambiente soturno, porém colorido no que se poderia configurar como
o gênero chamado de cyberpunk. Sim cyberpunk, aquele que tem como definição uma
sociedade tecnologicamente desenvolvida, mas com pouca qualidade de vida "High
tech, Low life", normalmente despótica e onde os indivíduos cyberpunks lutam
e resistem contra as regras opressoras do sistema, como na definição do
escritor de Neuromace Willian Gibson. E é justamente isso que acontece em
Batman Digital Justice. Na história a sociedade está corrompida e comandada por
um vírus de computador criada pelo próprio Coringa. Ainda temos traficante de
drogas mutagênicas gangues de neonazistas, um submundo de corrupção e a mídia
manipulando informação e exercendo o controle mental da população. Opa, isso não
se parece alguma um pouco com hoje em dia? Sim parece. E temos até um caráter um
pouco preditivo, visto que já fazem trinta anos da publicação da obra. Somando
isso tudo a uma atmosfera para lá de violenta, com alguns momentos bem hardcore.
Ganges e neofascistas fazem parte do cotidiano distópico da Gothan City do futuro
Na
contramão temos o policial Jim Gordon, neto do comissário Gordon que está lutando
por justiça. Quando a coisa fica feia um antigo programa de computador que
contem o código de justiça do Cavaleiro das Trevas é reativado e passa a ajudar
o novo Batman a fazer Justiça no ambiente real e digital.
Uma
das coisas que mais me chamam a atenção em uma obra de ficção é a criação e o
desenvolvimento dos personagens. No caso de Digital Justice tem muitos personagens
interessantes. Eu gostei bastante da caracterização dos vilões como o senhor do
crime, o homem da mídia e o homem da lei, são como se fossem os capangas do
coringa mais muito mais sofisticados. Jim Gordon e Bob Change, ou Aka Batman e
Robin são bem moldados. No início Jim parece com o policial Richard Decard de
Blade Runner, mas desenvolve legal. O Robin tem a mesma rebeldia de sempre,
porém bem dosada. Já a Mulher Gata é uma estrela de rock, filha da prefeita de Ghotan,
que também é uma das vilãs, parece bem mimada e revoltadinha, diferente da original
o que ficou meio esquisito.
O Robin do futuro tem até um hoveboard...
Porém
o problema todo, pelo menos o que eu acho está no desfecho da história a luta
final entre os vírus coringa e programa Batman não é bem resolvida ficando umas
pontas soltas o que se tentou fazer como um espetáculo visual das habilidades gráfico
computacionais do autor, e conseguiu, ficou meio que devendo para a história em
si. O que é uma pena, por que um desfecho melhor teria mantido essa obra mais
tempo na memória dos fãs.
Enfim
essa é uma obra que envelheceu e está esquecida nos sebos da vida. Ela nem é
considerada como um crossover oficial do homem-morcego. Mas dado ao contexto
histórico e aos elementos futuristas que incorporou e que tem respaldo na nossa
realidade atual, acho que deveria ser relançada
como edição especial comemorativa, por que mesmo que meio offshore, tem bastante
coisa a acrescentar na mitologia do homem que se veste de morcego.
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