terça-feira, 31 de março de 2020

Digital Justice no Bat-bugigangas Review - A aventura mais cyberpunk do Homem-Morcego



Capa da revista Batman Digital Justice
Eu fiquei muito impressionado quando sai do cinema após assistir Batman de Tim lançado nos EUA em 1989 e exibido no brasil lá pelo final de 1990. Naquela época não tinha esse negócio de estreia simultânea os filmes demoravam a chegar, ainda mais em cidade pequena de Santa Catarina. Foi após esse filme que comecei a gostar muito mais do personagem do Cavaleiro das Trevas.
Já fazem quase trinta anos que nesse mesmo período ganhei de um amigo uma edição da HQ Digital Justice do Batman, sem a capa.  Mesmo assim sem capa, essa publicação me causou um enorme impacto e se tornou um dos meus itens mais valiosos, anos depois eu penei atrás de sebos para achar uma edição intacta e bem conservada. Olhando hoje para os desenhos e visual da revista, julgaríamos como datada e velha. Mas para época que foi lançada o impacto foi forte. A arte da revista foi feita totalmente por computação, sem desenhos a mão. Essa é uma tendência que não vingou, por que logo depois os computadores forma utilizados para ampliar os traços e principalmente as cores. Hoje mesmo sendo possível desenhar direto na tela do computador a habilidade manual dos desenhista ainda são super valorizadas como diferencial.  Mas o fato curioso é que os computadores da época, mesmo os mais avançados não tinham uma boa qualidade gráfica. Os pixels dos desenhos são enormes, ficando parecendo que toda a revista é um jogo de mega drive. Bom até poderia ser se não fosse a história que, particularmente acho bastante impactante, principalmente para a época.

Detalhe do quadrinho Batman Digital Justice que mostra o neto do Comissário Gordon encontrando recortes de jornal sobre o Batman em um Gothan city do futuro
O neto do comissário Gordon é candidato a vestir o manto do morcego para fazer valer  a justiça digital. 

 Mesmo com baixa resolução de imagens, existe momentos bastante fortes onde a habilidade gráfica consegue excelentes resultados  de composições com cores e elementos visuais que geram um ambiente soturno, porém colorido no que se poderia configurar como o gênero chamado de cyberpunk. Sim cyberpunk, aquele que tem como definição uma sociedade tecnologicamente desenvolvida, mas com pouca qualidade de vida "High tech, Low life", normalmente despótica e onde os indivíduos cyberpunks lutam e resistem contra as regras opressoras do sistema, como na definição do escritor de Neuromace Willian Gibson. E é justamente isso que acontece em Batman Digital Justice. Na história a sociedade está corrompida e comandada por um vírus de computador criada pelo próprio Coringa. Ainda temos traficante de drogas mutagênicas gangues de neonazistas, um submundo de corrupção e a mídia manipulando informação e exercendo o controle mental da população. Opa, isso não se parece alguma um pouco com hoje em dia? Sim parece. E temos até um caráter um pouco preditivo, visto que já fazem trinta anos da publicação da obra. Somando isso tudo a uma atmosfera para lá de violenta, com alguns momentos bem hardcore.  

Pagina da hq Batman Digital Justice que mostra as gangues no Gothan City do futuro

Ganges e neofascistas fazem parte do cotidiano distópico da Gothan City do futuro

Na contramão temos o policial Jim Gordon, neto do comissário Gordon que está lutando por justiça. Quando a coisa fica feia um antigo programa de computador que contem o código de justiça do Cavaleiro das Trevas é reativado e passa a ajudar o novo Batman a fazer Justiça no ambiente real e digital.
Uma das coisas que mais me chamam a atenção em uma obra de ficção é a criação e o desenvolvimento dos personagens. No caso de Digital Justice tem muitos personagens interessantes. Eu gostei bastante da caracterização dos vilões como o senhor do crime, o homem da mídia e o homem da lei, são como se fossem os capangas do coringa mais muito mais sofisticados. Jim Gordon e Bob Change, ou Aka Batman e Robin são bem moldados. No início Jim parece com o policial Richard Decard de Blade Runner, mas desenvolve legal. O Robin tem a mesma rebeldia de sempre, porém bem dosada. Já a Mulher Gata é uma estrela de rock, filha da prefeita de Ghotan, que também é uma das vilãs, parece bem mimada e revoltadinha, diferente da original o que ficou meio esquisito.  

Robin lutando contra o cartel do Senhor do Crime no revista Batman Digital Justice
O Robin do futuro tem até um hoveboard...

Porém o problema todo, pelo menos o que eu acho está no desfecho da história a luta final entre os vírus coringa e programa Batman não é bem resolvida ficando umas pontas soltas o que se tentou fazer como um espetáculo visual das habilidades gráfico computacionais do autor, e conseguiu, ficou meio que devendo para a história em si. O que é uma pena, por que um desfecho melhor teria mantido essa obra mais tempo na memória dos fãs.
Enfim essa é uma obra que envelheceu e está esquecida nos sebos da vida. Ela nem é considerada como um crossover oficial do homem-morcego. Mas dado ao contexto histórico e aos elementos futuristas que incorporou e que tem respaldo na nossa realidade atual,  acho que deveria ser relançada como edição especial comemorativa, por que mesmo que meio offshore, tem bastante coisa a acrescentar na mitologia do homem que se veste de morcego.

Pagina da Revista Digital Justice onde o Batman foi capturado es está passando por um processo de digitalização



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